sábado, 13 de maio de 2023

THE MONKEES - DA COMÉDIA PARA O SUCESSO MUSICAL

Uma banda divertida na TV e na música dos anos 60.

The Monkees - Atores e músicos de sucesso.


Por Alexandre Nagado [*]

A partir de sua histórica aparição no programa de TV The Ed Sullivan Show em 1964, os Beatles se tornaram um fenômeno de público nos EUA e de lá para o mundo. Seus discos vendiam milhões e isso movimentou o mercado musical, com as gravadoras procurando artistas que seguissem mais ou menos o mesmo estilo consagrado.

Pensando além, executivos Bob Rafelson e Bert Schneider, da emissora americana NBC, bolaram um programa de TV que mostrasse o cotidiano de uma banda muito parecida com os Fab Four, em histórias cheias de humor e aventura que seriam a vitrine para divulgar os singles e álbuns dessa banda imaginária. Surgia o conceito inicial da série de TV The Monkees.

Após muitas audições, chegou-se à formação oficial, que trazia os ex-astros mirins Davy Jones e Micky Dolenz, já experientes como atores, mais os músicos Michael "Mike" Nesmith e Peter Tork. A ideia é que eles seriam apenas atores do programa, e cantariam as músicas compostas, tocadas e produzidas por artistas renomados.

O tema de abertura – e mais um monte de canções do repertório – ficaria a cargo da dupla de compositores Tommy Boyce e Bobby Hart. O icônico tema foi cantado por Micky, com Boyce e Hart fazendo o coro.


Com muita insistência, Mike Nesmith conseguiu que gravassem uma de suas composições estilo country, e Peter só pisou no estúdio para gravar violão em uma faixa, visto que não gostaram de sua voz. Os músicos do grupo ficaram desapontados com o pouco espaço, mas pegaram a oportunidade e se concentraram no trabalho de atuação. Mike seria o único a manter composições próprias em uma base regular. 

The Monkees estreou em 12 de setembro de 1966, mostrando o cotidiano de uma banda de rock tentando o caminho para o estrelato e se metendo em várias confusões. O disco de estreia, que leva apenas o nome da banda, também foi muito bem, sendo seguido no ano seguinte por More of The Monkees. O programa e a banda logo caíram nas graças do público, mas também na mira da crítica musical. Se por um lado, canções como “Last train to Clarksville”, “I´m not your stepping stone”, "Daydream Believer" e outras faziam sucesso, a imprensa logo começou a pegar no pé deles, apontando a armação de gravadora e estúdio de TV. Mas nada abalava sua popularidade. 

Com seu humor infantil e escrachado, logo conquistaram o público, e até John Lennon disse que se divertia com a série. Foram 58 episódios, divididos em duas temporadas que fizeram sucesso mundo afora, inclusive no Brasil.

Os segmentos musicais dos episódios deixavam claro que o baterista e vocalista Micky Dolenz não sabia tocar o instrumento, apenas fingia. Na verdade, todos fingiam tocar, pois os discos foram tocados por músicos de estúdio. Veio o segundo disco, lançado sem que os próprios artistas fossem avisados do dia em que chegaria às lojas.

Com suas canções tocando nas rádios, havia a pressão para apresentações ao vivo. Peter e Mike já sabiam tocar profissionalmente baixo e guitarra, respectivamente. Davy tocava apenas percussões leves, como pandeiros e maracas, coisa que fazia com desenvoltura, mas Micky teve que fazer um curso intensivo de bateria. 

Após um primeiro show experimental no Hawaii, onde qualquer fiasco poderia ser rapidamente abafado, o grupo foi se sentindo mais uma banda de rock e menos um elenco de série de TV. A partir dessa apresentação, vários shows foram sendo agendados. Em alguns, deram chance para que um cantor e guitarrista desconhecido abrisse os shows. Era Jimmy Hendrix, que se tornaria uma lenda do rock. 

Com a série dando audiência, e com a crítica musical desdenhando deles, os Monkees resolveram que já tinham cacife para fazer exigências. Então, conseguiram se organizar para produzir um disco autoral como seu terceiro álbum. Contrataram o baixista e produtor Chip Douglas e se fecharam em um estúdio. Com várias composições próprias e algumas de convidados que escolheram, eles encararam o desafio, tocando em todas as faixas. 

Headquarters foi lançado em 1967 e era um baita disco, com pérolas como "Shades of grey", "You just may be the one" e "For Pete´s sake". Porém, foi lançado quase que ao mesmo tempo em que Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, muitas vezes apontado como o maior álbum de rock de todos os tempos. Mesmo ofuscado pelo ar revolucionário do disco dos Fab Four, o Headquarters conseguiu fazer bonito, ficando 11 semanas em segundo lugar nas paradas.
 
 
Cartaz do filme HEAD (Os Monkees Estão Soltos)

Em 1968, veio o filme HEAD, um título que pegava carona no HELP! dos Beatles. Com roteiro de Jack Nicholson e Bob Rafelson, veio um filme estranho, experimental e sem relação com o clima de diversão que imperava na série de TV. No Brasil, foi batizado de Os Monkees Estão Soltos, sendo exibido diversas vezes. A música principal do filme era "Circle Sky", escrita e cantada por Mike Nesmith. 

Na parte do filme onde a música toca, aparecem imagens terríveis da guerra no Vietnã, inclusive mostrando mulheres e crianças em sofrimento. No final, uma plateia ensandecida invade o palco e desmembra os músicos, numa cena fake e grotesca. O filme dificilmente agradou a quem gostava do clima leve e alegre da série de TV.

A banda continuou de forma mais ou menos regular nos anos seguintes. Mike saiu, depois Peter. Os compositores Boyce e Hart foram oficializados como membros durante um tempo, e a banda nunca parou realmente, pois seu público se mantinha fiel. Sem a formação original completa, vários trabalhos foram lançados, com a banda acomodada no papel de intérpretes, com compositores e músicos convidados. 

The New Monkees - Uma tentativa fracassada de reviver a série com outros atores.


Na metade dos anos 80, as reprises na TV alcançaram grande sucesso e uma nova série, com novo elenco, foi lançada, com o título The New Monkees. Foi um fiasco, e nunca mais tentaram substituir os ícones da década de 1960. 

A formação original e definitiva só se reuniu novamente em 1995, para o álbum Justus (Just us). Pela primeira e única vez sem compositores de fora e sem músicos convidados, o quarteto fez o que seria seu trabalho mais autoral. Um tanto irregular, mas com momentos deliciosos, Justus abre com uma regravação de "Circle Sky", seguida de 11 faixas inéditas, com destaque para a belíssima “It´s not too late”.

De maneira inesperada, os fãs chorariam a morte de Davy Jones em 2012, falecido aos 66 anos após um repentino ataque cardíaco.
 
Para comemorar os 50 anos em 2016, o trio remanescente lançou Good Times, uma produção inspirada que misturava composições deles com a de convidados, incluindo Noel Galagher, do Oasis. Uma canção inédita cantada por Davy foi incluída, para que ele estivesse presente. Peter e Micky, com a eventual participação de Mike, seguiriam com shows sempre com casa lotada, mas Peter Tork faleceria em 2019, aos 77 anos.

Em seguida, Dolenz e Nesmith fizeram uma turnê pelos EUA, intitulada The Monkees Present – The Micky and Mike Show. Ambos continuavam com suas vozes em excelente forma, mas Mike não estava bem de saúde, tendo sido hospitalizado após um dos shows. Em uma gravação que circulou na web, ele é visto se perdendo mais de uma vez em uma canção, fazendo enorme esforço para prosseguir. Infelizmente, Nesmith faleceu no final de 2021, aos 78 anos. 
 
Último integrante vivo, Micky Dolenz iniciou 2023 uma turnê pelos EUA, celebrando o legado dos Monkees.
 
Considerados um verdadeiro fenômeno de seu tempo, foi uma banda que surgiu em uma série de TV e vendeu mais de 75 milhões de discos em todo o mundo. Com honras e sem nenhum demérito pela definição, a melhor e mais divertida banda pré-fabricada de todos os tempos.
 
 
[*] Texto publicado originalmente no antigo blog Reflexo Cultural. O autor do texto, Alexandre Nagado, é cartunista, roteirista de quadrinhos e escritor. Entre seus trabalhos destacam-se os roteiros das HQs Changeman, Flashman e Maskman, pela Editora Abril. Machine Man, Sharivan e Goggle V pela editora Ebal. Street Fighter pela Editora Escala. Matérias na Revista Herói pela Editora ACME. Livros Almanaque da Cultura Pop Japonesa pela Editora Via Letera e Paulo Fukue - O Engenheiro de Papel pela Editora Criativo / Editora GRRR!. Atualmente escreve sobre cultura pop japonesa em seu Blog Sushi POP




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