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O programa que reuniu toda a genialidade e personagens de Roberto Gómez Bolaños
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Entre as décadas de 1950 e 60, o jovem mexicano Roberto Gómez Bolaños iniciou sua carreira como redator de televisão, rádio e cinema. Sua genialidade lhe rendeu um apelido por parte do diretor Agustín P. Delgado. Este passou a chamá-lo como o Pequeno Shakespeare, que na língua espanhola seria Chespirito. Dentre seus principais trabalhos no citado período, destacam-se o programa humorístico Cómicos y Canciones, estrelado pela famosa dupla Viruta e Capulina, e o filme Los Legionarios, de 1958.
Chespirito teve sua primeira participação como ator ainda no programa Cómicos y Canciones, quando precisou substituir um ator que havia faltado às gravações, provando que era talentoso, não apenas na escrita, mas também em frente às câmeras. A princípio, seu foco maior era mesmo seguir escrevendo, mas novas oportunidades de atuar seguiram aparecendo. Em 1969 foi contratado pelo produtor Sérgio Pena, da TV TIM (Televisión Independiente de México), para escrever e atuar no papel principal da série humorística El Cidadano Gómez. Apesar da produção contar com apenas 7 episódios, foi o suficiente para fazer de Chespirito um dos grandes nomes do humor mexicano.
Já entre 1969 e 1970, passou a escrever para o programa Sábados de la Fortuna, onde criou o quadro Os Supergênios da Mesa Quadrada (Los supergenios de la Mesa Cuadrada). O sucesso da atração fez com que o mesmo logo se tornasse um programa independente com horário próprio. Foi nesta atração que surgiram os famosos personagens Dr. Chapatin (interpretado por Chespirito) e Professor Girafales (interpretado por Rúben Aguirre), que posteriormente seriam utilizados nas séries de maior sucesso de Bolaños, Chaves e Chapolin Colorado.
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Os Supergênios da Mesa Quadrada: Ramón, Maria Antonieta, Dr. Chapatin e Prof. Girafales
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A partir de outubro de 1970, o programa mudaria de nome para Chespirito, onde várias esquetes estreladas pelos personagens de Bolaños eram exibidas, agora com duração de uma hora. Foi nesta fase que surgiria o herói atrapalhado, Chapolin Colorado, e pouco depois o garoto do barril, Chaves. Outras esquetes que se destacam neste período são Chaparrón Bonaparte (Los Chifladitos), Chompiras e Peterete (Os Ladrões), Dr. Chapatin e outras histórias soltas de Chespirito.
Esta fase do programa durou até meados de 1973, quando os personagens Chaves e Chapolin passaram a ter maior destaque, substituindo assim o programa Chespirito com suas respectivas séries independentes. Tais séries foram exibidas por vários anos, sendo o programa de Chapolin Colorado encerrado em 1979 e Chaves no início de 1980.
Com o final das duas citadas séries, Bolanõs planejava o retorno de seu clássico programa humorístico composto por várias esquetes de seus personagens, agora estando na maior emissora do México, a Televisa. Assim, mesmo com seus programas indepedentes encerrados, Chaves e Chapolin ainda seriam atrações da nova fase do programa Chespirito, ao lado de outros personagens como Chompiras e Botijão (Los Caquitos), Chaparrón Bonaparte (Los Chifladitos), Dr. Chapatin e Vicente Chambón (La Chicharra).
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Quadro de reestreia de Chaparrón Bonaparte em 1980.
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Na primeira metade da década de 1980, o programa Chespirito era composto, na maioria das vezes, por quatro ou cinco esquetes semanais dos citados personagens. Embora, em algumas ocasiões, houvessem programas inteiros dedicados a uma única história de 45 minutos (fora os intervalos comerciais). Dentre estes programas especiais, com apenas uma esquete em destaque, estavam vários episódios de Chaves e Chapolin Colorado. Curiosamente, um destes episódios de Chapolin, intitulado "Aventuras em Marte", gravado em 1981, contava com duas partes e foi editado como um filme de 90 minutos, sendo dublado e exibido no Brasil pelo SBT em 1998 na sessão Cinema em Casa.
Destaque para as esquetes do personagem Vicente Chambón, intitulado La Chicharra, que apresentava o repórter homônimo (interpretado por Chespirito) que era muito atrapalhado e distraído, sempre trabalhando ao lado de sua melhor amiga, a fotógrafa Cândida (Florinda Meza). Tal esquete fora baseada em uma pequena série de mesmo nome, apresentada em apenas 14 episódios no ano de 1979, substituindo a série Chapolin Colorado.
A partir da segunda metade da citada década, mais precisamente no ano de 1987, o programa começou a dar maior destaque para as esquetes de Chompiras e Botijão (Los Caquitos). Baseada na antiga esquete Os Ladrões, estrelada por Chespirito e Ramón Valdéz no início dos anos 70, agora a dupla tinha como o novo parceiro de Chompiras o egocêntrico Botijão, interpretado por Edgar Vivar. Na primeira metade da década, as esquetes seguiam o mesmo padrão das histórias da dupla de ladrões atrapalhados que nunca conseguiam roubar nada. Já em 1987, uma nova fase chegava, mostrando a dupla arrependida de seus crimes e passando a trabalhar no hotel do Senhor Lúcio (Don Lucho), interpretado por Carlos Pouliot.
Além das esquetes dos personagens mais conhecidos, como o médico ranziza Dr. Chapatin e a dupla de loucos Chaparrón Bonaparte e Lucas Pirado (Lucas Tañeda), haviam também novos personagens, como Dom Caveira, um dono de funerária com um humor um tanto sombrio, e esquetes em homenagem à personagens clássicos, como O Gordo e o Magro (brilhantemente interpretados por Edgar Vivar e Chespirito, respectivamente) e por vezes homenageando importantes figuras da história, como Guilherme Tell e Cristóvão Colombo.
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Chompiras, Chimoltrúfia e Botijão em Los Caquitos.
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Após a mudança nas histórias de Chompiras, a esquete foi gradativamente tornando-se o carro-chefe do programa, chegando ao ponto de nos anos 90 ser praticamente o único quadro apresentado nos 45 minutos da atração, por vezes sendo acompanhado por pequenos quadros de Dom Caveira, Chaparrón e Dr. Chapatin. Especialmente após o ano de 1993, quando Chaves e Chapolin deixaram de ser gravados definitivamente.
As tramas passadas no dia a dia do Hotel do Senhor Lúcio agradaram o público mexicano, tornando os personagens da esquete extremamente populares. Destaque para a escandalosa Chimoltrúfia, brilhantemente interpretada por Florinda Meza. Era a camareira do hotel, que vivia cantarolando aos berros, enquanto fazia seu trabalho. Botijão era o ascensorista do elevador, sendo que sempre mandava os hóspedes subirem pela escada, já que o equipamento não suportava seu peso. Chompiras, o astro da esquete, era um despreocupado carregador de malas, que fazia seu trabalho apenas quando lhe ofereciam boas gorjetas.
Em 1993, houve outra mudança no enredo dos episódios, quando o trio Chompiras, Botijão e Chimoltrúfia ficaram desempregados durante algum tempo. Logo conseguiram trabalho em outro hotel, chamado Boa Vista, de propriedade do Seu Cecílio, interpretado por Moisés Suárez.
A popularidade da esquete, especiamente da personagem Chimoltrúfia, levou a editora mexicana Pregón Editorial a publicar a revista em quadrinhos La Chimoltrufia, entre 1990 e 1994. Entre os anos 70 e 80, vários personagens de Chespirito haviam ganhado publicações em quadrinhos, como Chaves, Chapolin e até mesmo Los Caquitos. Porém, o fato de ser lançada uma revista com uma personagem que, à princípio, era secundária, mostra sua importância e sucesso junto ao público.
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Revista em quadrinhos de La Chimoltrufia nº 3, publicada nos anos 90.
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Assim como na fase clássica das séries Chaves e Chapolin, nos anos 70, as esquetes de Chompiras contavam com vários episódios marcantes e até mesmo sagas de dois ou mais episódios. Dentre estes estão "Hospital do Barulho", "Atentado ao Delegado", "Ali Babá e os 40 Comilões", "A Volta de Chamóis, o Bandido das Mil Faces", "Corra que o Gorila vem aí", "A Praça Não é Nossa", "Procurando Emprego", entre outros.
O programa foi exibido até 1995. Neste ano, o mesmo foi perdendo espaço na grade da Televisa, chegando a ter apenas 30 minutos de duração em seus episódios finais, já que a emissora estava passando por reformulações e não mais exibiria atrações humorísticas na faixa noturna. O último programa foi exibido em 25 de setembro de 1995, sendo composto pelos esquetes: Dr. Chapatin: "O Depósito", Chespirito: "O Bêbado e a Casa Maluca", Chompiras: "Um Dia no Zoológico".
A EXIBIÇÃO NO BRASIL
Após 13 anos de sucesso das séries Chaves e Chapolin no Brasil, exibidas pelo SBT desde 1984, chegava ao país uma grande novidade envolvendo os, até então, "novos" e desconhecidos personagens de Roberto Bolaños. Em 1997, era a vez de outra emissora assinar um contrato para a exibição de produtos da Televisa, a rede CNT. O pacote contava com várias telenovelas e, a grande supresa humorística, programa Chespirito.
Várias chamadas especiais eram exibidas com grande destaque durante os intervalos da emissora, enquanto o público aguardava ansiosamente para conhecer o novo programa, assim como para conhecer seus respectivos personagens. A estreia ocorreu em um domingo, 30 de maio de 1997. Logo a exibição se estendeu a todos os dias da semana, em horário nobre, no ínicio da noite.
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Recorte de jornal da época, mencionando a estreia de Chespirito.
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Foram exibidos cerca de 100 episódios das temporadas gravadas entre 1990 e 1995, que ganharam dublagem, à princípio no estúdio paulista BKS. Chespirito foi dublado por Sérgio Galvão, já que o dublador oficial de Chaves e Chapolin no SBT, Marcelo Gastaldi, havia falecido em 1995. Os demais dubladores originais foram mantidos, em sua maioria. Duas exceções foram os personagens dos atores Rúben Aguirre e Edgar Vivar, que originalmente eram dublados por Mário Vilela e Osmiro Campos, respectivamente. Os personagens de Aguirre aqui ganharam a voz de Sidney Lilla, enquanto os de Vivar a voz de Ivo Roberto "Tatú".
Um segundo lote chegou a ser dublado por outro estúdio, a Parisi Video, também de São Paulo, onde o elenco da versão BKS foi mantido. Consta que em certa altura do trabalho, o dublador dos personagens do ator Raúl Padilla (O carteiro Jaiminho em Chaves), no caso Eleu Salvador, precisou ser substituído. Na ocasião, o diretor de dublagem, José Parisi Júnior, escalou Mário Vilela em seu lugar, mas infelizmente estes episódios não chegaram a ser exibidos antes do término de contrato da CNT com a Televisa.
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"Clube do Chaves", o novo título do programa Chespirito no SBT.
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Quatro anos mais tarde, o SBT anunciou a estreia do programa Chespirito. Porém, com novo título, adaptado para Clube do Chaves, e nova dublagem realizada no estúdio paulista Gota Mágica, que escalou o ator Cassiano Ricardo na voz do protagonista. A estreia na emissora ocorreu em um sábado, 2 de junho de 2001, às 13h30. Os episódios exibidos, assim como na CNT, eram das temporadas gravadas entre 1990 e 1995.
Os grandes problemas da exibição da série no SBT foram a mudança do título do programa, focando no personagem Chaves, que já não era o carro-chefe de Chespirito neste período, e a tradução para a dublagem. Muito diferente do humor sadio de Bolaños, que o público estava acostumado, foram usados alguns termos baixos que não estavam nos scripts originais. Até mesmo nomes de personagens foram trocados, como no caso de Chompiras que virou "Chaveco" e Chaparrón Bonaparte, agora chamado como "Pancada Bonaparte". Logo, as exibições aos sábados foram canceladas, mais precisamente em 4 de maio de 2002, e o programa voltou apenas em meados de 2006 como tapa-buraco nas madrugadas da emissora. Entre janeiro e junho de 2017, o Clube teve sua última, e breve, passagem pela emissora no horário do almoço.
Na TV paga, o programa foi exibido com o título As Novas Aventuras do Chaves, pela emissora TLN (pertencente à Televisa) com a dublagem da Gota Mágica. Em meados de 2019, foi disponibilizado para o assinantes do serviço de streaming da Amazon, Prime Video, deixando o catálogo em 2020 quando o programa, assim como as séries Chaves e Chapolin, teve sua exibição bloqueada em todo o mundo por impasse de direitos autorais.
Entre 2005 e 2008, a distribuidora Amazonas Filmes lançou vários episódios de Chespirito, ao lado de Chaves e Chapolin, em 8 boxes de DVDs no mercado nacional. As grandes novidades do lançamento foram a nova dublagem, realizada pelo Studio Gábia-SP, e o grande número de episódios inéditos disponíveis nos discos, incluindo alguns da primeira fase dos anos 80. Na ocasião, os personagens de Chespirito foram dublados por Tatá Guarnieri, que embora tenha dividido opiniões como a nova voz de Chaves e Chapolin, fez um trabalho primoroso em Chompiras, Dr. Chapatin e Chaparrón Bonaparte.